Brasília patrimônio do Brasil e do mundo
A construção da Capital Federal foi pensada e desejada bem antes de 1960, data de sua inauguração. Muitas histórias ocorreram até que a cidade se tornasse realidade.
Primeiro recordemos que o planalto no qual a cidade foi construída, o Planalto Central, já era ocupado mesmo antes da chegada dos primeiros bandeirantes, por volta de 1613. Onde hoje vivemos era entroncamento de diversas regiões. Nesse local, tribos se fixavam temporariamente em busca de sua sobrevivência, mediante a caça, a coleta de frutos e a pesca.
Por exemplo, em Formosa e em Taguatinga, existem sítios arqueológicos que comprovam a existência desses povos há pelo menos 15.000 anos atrás. As tribos Kaiapó, Acroá, Xavante, Xerente e Xacriabá percorriam essas paragens por todos os lados, aproveitando-se dos rios e córregos, das matas e florestas para garantir seu alimento; moravam temporariamente nas lapas de pedras que formavam abrigos naturais contra o sol, a chuva, o frio e o calor. Eram os verdadeiros donos das terras, embora não considerassem seus proprietários.
Muitas pessoas contribuíram para transferir a Capital do litoral rumo ao interior: os Inconfidentes de Minas Gerais, Hipólito José da Costa, Francisco Adolfo Varnhagen, Luis Cruls e o Presidente JK somente citando alguns. Porém, neste texto, o destaque é dado à obra de duas personalidades que deixaram a sua marca bastante presente na cidade: Lucio Costa e Oscar Niemeyer.
Lúcio Costa, que era urbanista, foi quem pensou e criou a cidade como ela é hoje. Para inventá-la, ele se baseou em quatro idéias chamadas Escalas Arquitetônicas.
Essas escalas são maneiras de pensar e planejar as cidades antes de ser construída, isto é, os urbanistas imaginam como a cidade será depois de pronta e como as pessoas viverão nela. Nenhuma escala é mais importante que as outras, todas juntas formam um conjunto harmônico e belo.
Brasília foi organizada por setores conforme suas funções moradia, trabalho e lazer respeitando as quatro escalas.
Como a cidade seria a Capital Federal, fazia-se necessário que sua estrutura e seu visual impressionassem ou dessem uma visão de grandeza a quem a visitasse ou nela residisse. Por isso que no Eixo Monumental estão localizados os edifícios públicos representando dos três poderes da Nação. Os palácios do Planalto, Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. O conjunto que compõe Esplanada dos Ministérios além dos palácios do Itamaraty, da Justiça. No mesmo eixo se encontram ainda a Catedral de Brasília, e, mais a oeste, a Praça do Buriti com os poderes locais. Essa é a Escala Monumental.
A Escala Gregária é a região destinada ao encontro e concentração de pessoas para o trabalho e o lazer. Local de escritórios, lojas, restaurantes, bares, livrarias, cinemas, teatros. Abrange a Rodoviária, os setores de diversão, hoteleiro, comercial, autarquias e bancário, norte e sul. Nesses setores estão os altos edifícios onde milhares de trabalhadores encontram ocupação.
A Escala Residencial, setor próprio para morar, apresentou à época a inovadora proposta das super-quadras. Lúcio Costa criou uma nova maneira de viver em cidade, própria de Brasília e totalmente diferente das outras cidades brasileiras. Cada super-quadra deveria promover a serenidade urbana através dos edifícios, com baixas alturas, o uso de pilotis, chão livre arborizado e acessível a todos. Nessas haveria também o comércio local, escolas, equipamentos de lazer e convívio comunitário.
A Escala Bucólica transforma a cidade em um grande parque com extensas áreas verdes e arborizadas que liga os vários setores de forma contínua e harmônica. É responsável pela qualidade de vida que conecta o ser humano à natureza de forma a proporcionar um jeito particular de trabalhar e morar em Brasília.
Outro personagem importante para a história da Capital é Oscar Niemeyer, arquiteto que projetou quase todos os edifícios públicos do Plano Piloto. Ele soube dar à cidade características visuais que a destacam de todas as cidades do mundo. A arquitetura se uniu a beleza para identificar e personalizar a Capital do Brasil.
Além da arquitetura e urbanismo diferenciados, encontramos distribuídas pela cidade muitas obras de arte que contribuem para valorizar e harmonizar da paisagem. São artistas de todos os cantos que nos presentearam com suas obras.
Brasília recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade auferido pela UNESCO em 1987. De acordo com o organismo internacional, a cidade representa “uma obra artística única, uma obra-prima do gênio criativo humano” e é “um exemplar marcante de um tipo de construção ou conjunto arquitetônico, que ilustre um estágio significativo da história da humanidade”
Seu tombamento está condicionado à manutenção das escalas arquitetônicas. Assim é necessário a cada dia estarmos atentos para as características que a transformaram em patrimônio cultural da humanidade e que nos orgulha, não sejam destruídas, e as gerações futuras possam admirar e vivenciar a cidade como foi originalmente pensada.
Rinaldo Paceli, 02/10/2011.
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